terça-feira, 23 de junho de 2009

"A Ilha das Trevas"

O romance retrata o período conturbado que se inicia com a ocupação indonésia da antiga colónia portuguesa de Timor-Leste até à independência daquele território como país.
A Ilha das Trevas de José Rodrigues dos Santos
Edição/reimpressão: 2007
Páginas: 356
Editor: Gradiva Publicações

Sinopse:
Paulino da Conceição é um timorense com um terrível segredo. Assistiu, juntamente com a família, à saída dos portugueses de Timor-Leste e a todos os acontecimentos que se seguiram, tornando-se um mero peão nas circunstâncias que mediaram a invasão indonésia de 1975 e o referendo de 1999 que deu a independência ao país.
Só há uma pessoa a quem Paulino pode confessar o seu segredo - mas terá coragem para o fazer?
A vida e tragédia de uma família timorense serve de ponto de partida para aquele que é o romance de estreia de José Rodrigues dos Santos, precursor de grandes êxitos como A Filha do Capitão, O Codex 632 e A Fórmula de Deus.
Um romance pungente onde a ficção se mistura com o real para expor, num ritmo dramático, poderoso e intenso, a trágica verdade que só a criação literária, quando aliada à narrativa histórica, consegue revelar.

O autor:
José Rodrigues dos Santos nasceu em 1964, em Moçambique. Abraçou o jornalismo em 1981, na Rádio Macau, tendo ainda trabalhado na BBC e sido colaborador permanente da CNN.
Doutorado em Ciências da Comunicação, é agora professor da Universidade Nova de Lisboa e jornalista da RTP. Trata-se de um dos mais premiados jornalistas portugueses, tendo sido galardoado com dois prémios do Clube Português de Imprensa e três da CNN, entre outros.
Já publicou quatro ensaios e quatro romances, sendo A Ilha das Trevas o primeiro destes.

Outras obras do autor:
A Filha do Capitão,
O Códex 632,
A Fórmula de Deus,
O Ultimo Selo,
A Vida num Sopro,

Comentário:
Este foi o primeiro livro que li do autor e quando iniciei a minha leitura esperava algo diferente, no inicio fiquei um pouco desiludida, mas depois comecei a tomar consciência de uma realidade que não conhecia tão pormenorizada.
A história é intensa e comovente, aborda um assunto trágico mas real, com a leitura deste livro, compreendi muito melhor a realidade do povo timorense. Fiquei impressionada com a quantidade de massacres relatados, sendo o massacre do cemitério o que mais me impressionou.
Apesar de apelidado de romance, a obra não me parece um romance, devido aos factos históricos. Pois o autor debruçou-se mais na realidade, contando-nos através da ficção, verdades assustadoras e cruéis do povo de Timor.
É sem dúvida um livro surpreendente, relata na perfeição os acontecimentos em Timor Leste desde meados dos anos 70 com a invasão da indonésia, até a entrega da soberania aos timorenses em 19/05/2002.

O livro inicia com o Paulino a dirigir-se a uma igreja para se confessar, nesse dia inicia a sua confissão, mas não a termina. Paulino guarda um terrível segredo e só quando escreve uma carta a Esmeralda sua mulher é que o revela.
A história deste casal, Paulino e Esmeralda, com os filhos de ambos, Justino e Isabelinha deixou-me várias vezes com os olhos…
Uma leitura que se revelou uma agradável surpresa. Adorei.

Excerto que adorei:
“Tantas interrogações, tantas duvidas, tantos fins diferentes, tantos “ses”.
Na verdade, “se” é a palavra mais terrível, mais angustiante da condição humana. Tenho plena consciência de que, se as nossas decisões tivessem sido diferentes em algum dos momentos cruciais ou se as circunstancias fossem outras, mesmo que ligeiramente, a história da nossa família ainda poderia ter um final feliz. A realidade porém, é só uma, as considerações sobre o que aconteceria “se” não passam de uma dolorosa fantasia a que nos entregamos quando queremos fugir dos fantasmas que nos perseguem ao longo da vida por causa das nossas decisões e das circunstâncias em que foram tomadas.”

Leitura terminada a 20/06/2009

4 comentários:

  1. Adorei este livro. Retrata de uma forma brilhante a vivência de um povo. Para que, como eu, viveu a luta do povo timorense pela independência, é um livro comovente, que chega até a ser doloroso. Mas é uma memória fiel.

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  2. Anónimo2.7.09

    oi oi, obrigada pelo selinho! Adoro ler e sempre que possivel adquiro mais um livrinho para a minha pequena colecção...
    De todos os livros de José Rodrigues dos Santos este foi o que mais me marcou e deixou orgulhosa da luta que nós Portugueses levámos a cabo pelos direitos humanos.
    Parabéns pelo blog e boas leituras!

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  3. Gostei das aventuras de Tomás Noronha, mas sem dúvida que este, "A Ilha das Trevas", é o meu preferido, pois relata de uma forma pormenorizada e intensa o sofrimento de um povo, de um país que finalmente conseguiu a sua independência e a sua afirmação no mundo.

    Li o mês passado o seu último romance "A Vida num Sopro" e também gostei imenso do seu retrato ao Portugal dos anos 30. Com Salazar a subir ao poder e a impor ordem, o país vê-se a mudar de vida...

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